Saturday, May 5, 2007

ESCOLHAS DE TEXTOS

Vou pedir-vos para enviarem um mail a indicar o texto que mais gostaram e a sugerir ideias de realização dessas mesmas histórias da vossa preferencia.
Assim sendo vão ser retiradas do blog as histórias que superem os 3-5 minutos de realização. Essas passarão a constar no forum a ser criado onde existirá uma continua base de dados dos textos recebidos. Depois de alguma facilidade em trabalhar com histórias de curta duração talvez possamos pensar em textos para 10-15 minutos.
A proxima reunião será agendada para o final de esta semana, possivelmente sexta 11 da parte da tarde em local ainda a combinar. Até lá fico à espera dos comentários aos textos.

"Contagem Decrescente" de Diana Antunes

Um rapaz com ar de estudante caminha pelas ruas em direcção ao Metro. Passa muita gente por ele a correr, todos na direcção oposta ao seu movimento. Ao descer para a estação do Metro passa ainda mais gente a correr, a sair do metro, alguns olham-no com estranheza. Passa o passe na máquina e dirige-se para os bancos de espera. A estação está vazia. As televisões desligadas. Senta-se e repara numa folha de jornal abandonada que se move um pouco com um pequeno movimento de ar. Olha para o relógio. Nesse momento a estação explode.

"True Love" de Fredrick Fannon

True” LoveO que um rapaz (Nuno) de 19 anos faz por “amor”.A ideia seria mostrar um rapaz de 19 anos que mora emAlgés a ir ao encontro do amor da vida dele (Ana) quevive em sevilha.Ele tem uma vespa já com alguns anos e é nesta mota ecom alguns trocos no bolso que ele se vai aventurarpara ir ter com a sua paixão (Ana).Das horas geladas da noite, a encontros com estranhospelo caminho, a desabafos com a noite sobre o seu amorpela Ana, a ficar sem dinheiro para pagar um fanta,á mota desistir de andar com ele etc etc nada mas nadao vai parar deconseguir chegar a casa da Ana porque não há nada maisforte que o “amor” que ele sente por ela.Nuno chega depois de 38 horas de peripécias(sofrimento) e agarra aAna e nesse mesmo momento que se encontram fazem“amor” com muito desejo. Mal o Nuno tem o seu orgasmo(pouco tempo depois), levanta-se, veste se e diz a Anaque a ama e faz-se a estrada novamente.

"Abismo" de Rui Filipe

“Esta cidade é deprimente!”
Lisboa fictícia dos anos 40.
Inverno. A chuva escorre freneticamente por sulcos e arestas enrugadas do prédio envelhecido pelo tempo.
O jovem de face agitada olha para a rua através da pequena janela de vidros baços. A luz mortiça da noite que entra na divisão minúscula mal ilumina o interior, lançando imensas sombras através das paredes húmidas e vazias. O quarto alugado, há muito desabitado, enche-se de sons cristalinos que percorrem o pavimento nocturno da cidade.
“Que loucura é esta? O
que é que se passa comigo?
Não durmo há três noites,
a pensar que a qualquer
momento as sombras das
paredes vão ganhar vida
e devorar-me-ão!”
Horácio F. Gajão é um estudante universitário de arqueologia antropológica, e mudou-se para a Lisboa pombalina com o objectivo de concluir a sua tese sobre as superstições que velam a imaginação do Homem, baseado nas crenças medievais que ainda hoje fazem tremer até o mais fervente devoto religioso.
“Não tenho pais vivos,
amigos ou namorada!
Não tenho nada a perder...
Se não sobreviver a isto,
pelo menos saberei a verdade!”
O prédio velho e decadente fica situado na baixa da cidade, mesmo em frente á Sé Catedral de Lisboa. Da pequena janela, avistam-se as torres sineiras. Um dos campanários está vazio, o sino há muito desaparecido.
“Está lá em cima, a
observar-me! Sei que
também pode estar neste
quarto, a magicar a
minha rendição!”
Horácio afasta o olhar ansioso da janela. Num canto escuro, a cama desarrumada, coberta de livros e folhas espalhadas que caem para um chão de madeira húmida e podre, que ameaça ceder a cada passo. Dirige-se para a secretária mal iluminada por uma lâmpada pendurada na parede. Mosquitos e traças agitam-se debaixo da luz conforme se senta na cadeira desengonçada.
“Hoje estarei lá em cima!
«Vê-lo-ei»? Não sei!
Tenho de lá ir, pois todas
as noites eu ouço o seu convite!”
Horácio pega num livro visivelmente antigo que está sobre a secretária e abre-o numa página marcada, revelando uma gravura de uma criatura disforme e alada, com braços como garras e a face coberta de horrendos tentáculos. Na legenda pode ler-se:
«Demónio alado vindo detrás dos Tempos!»
3h40. A chuva cai pesada nas costas de Horácio, que atravessa apressadamente a rua deserta, alcançando as escadas frontais da igreja. Quando sobe ao patamar, olha para cima, contemplando a fachada e o portal, batidos e fustigados pelos elementos.
“Deus me perdoe! Não
tenciono violar a Sua
omnipotência, mas se
não souber a verdade,
também não terá valido
o anseio de acreditar!”
Silêncio e opressão reinam no interior da igreja, que transforma o ruído da chuva num cântico celeste, ecoado nas paredes cruéis e melancólicas.
Horácio procura o acesso para as torres e descobre a passagem para o campanário vazio.
“A superstição das
pessoas faz com que
acreditem naquilo quem
nem sequer vêem! Mas
eu tenho de ver para acreditar!”
A escada de degraus toscos e esculpida em caracol ascende num ângulo íngreme, dificultando a subida. O som da chuva é agora um murmúrio que se vai dissipando nas trevas. O ar fica mais denso, um pesado silêncio invade os sentidos de Horácio, como um pulsar intenso e grave conforme os degraus vão sendo mais difíceis de superar.
”Que raios! Mal consigo
pensar!
Este som, o que é isto?”
A porta que dá acesso ao campanário está fechada há muito tempo. Pó acumulado e teias de aranha são o testemunho de abandono ou esquecimento deste lugar.
Do lado oposto da porta pode ouvir-se algo, uma respiração reverberante, acompanhada de um raspar grosseiro, como se algo gigantesco se movesse dentro do compartimento.
“Meu Deus! É real!
Tenho de ver!
Maldita porta!”
A porta encravada move-se poucos milímetros, mas não cede o suficiente. Horácio tenta um último esforço para a abrir mas é surpreendido por um pungente cheiro nauseabundo, que o retrai. Em pânico, lança-se sobre a porta e num repente, esta escancara-se e em desequilíbrio, Horácio cai no abismo da torre sem sino, não sem antes vislumbrar uma silhueta disforme e alada largar-se no ar nocturno, debaixo do som do Inverno...
FIM

Thursday, May 3, 2007

"MEMÓRIAS CANTADAS" de Marcia Lamy

Cena 1
EXTERIOR, RUA DE ALFAMA, FIM DE TARDE
Raul está sentado no degrau da sua casa. Com os braços caídos, olhando o chão, mostra um ar tão pesado quanto o remorso que carrega. A rua está deserta e a sua roupa gasta confunde-se com a fachada velha dos prédios.
Só o vento quebra o silêncio.
Com uma rajada mais forte, Raul sente um arrepio que o faz tremer, levanta a cabeça e mira o alto da rua. Ninguém. Volta a fechar-se na sua concha.
Fica assim mais uns segundos dorido pela lembrança dos seus actos, quando, de repente, o barulho de uma bola a rolar na sua direcção o faz reagir. Levantando-se, corta-lhe a descida. E eis que surgem dois malandros aos gritos: “Raul! Raul! Anda jogar! Anda!”
Raul passa-lhes a bola, hesita um bocado e com a voz tremida pergunta-lhes: “Viram a Mariana?”
“Já partiu. A Dona Otília pôs o quarto a render”, responde prontamente um dos rapazes. “Vens connosco?”, insiste.
“Não, joguem vocês. Eu…eu tenho que fazer.”
Desistindo, os garotos seguem o seu caminho. Raul vê-os desaparecer. Olha para o relógio e desata a correr, acelerado, através de algumas ruas, destorcidas à sua passagem. À medida que avança começa-se a ouvir cantar o fado, primeiro ao longe, depois cada vez mais perto. Raul detém-se à porta do café por pouco tempo e entra.
Cena 2
INTERIOR, CASA DE FADOS
Encostado à porta, não se admira ao ver o café cheio de estrangeiros animados, mas discretos. Entre sorrisos e este ou aquele comentário vê-se neles o respeito pela música, pelo vinho e pelo chouriço a fumegar. Só mais tarde, tocados pelo ambiente, pelo tinto ou, quem sabe, embalados pelas cantorias, iniciariam longas conversas repletas de “Oh my God” e de risos estridentes.
O olhar que lhes deita é rápido. Sobrevoa as suas nucas para chegar ao palco, onde a rapariga que canta aperta o microfone entre as mãos, à medida que faz um crescente. Raul observa-a e solta uma lágrima. Canta bem, mas não o prende.
Ainda com o leito marcado sobre a face, sente que a sua presença foi notada. Manuel, com a guitarra portuguesa, olha na sua direcção, faz um movimento negativo com a cabeça e fica com um ar triste, enrugado, vendo-o partir.
Cena 3
EXTERIOR, ALFAMA, FIM DE TARDE
Desta vez o sentido é o inverso, Raul rasga as ruas em direcção ao Castelo. O vento força-o a voltar, empurrando-o para baixo, mas ele não desiste. As lágrimas, que agora escorrem sem cessar, são disfarçadas pela velocidade com que sobe.
Alguns turistas, mais resistentes, que regressam do Castelo, passam por ele e voltam-se à sua passagem, não conseguindo mostrar a sua indiferença. Mas ele não vê ninguém e, quando finalmente atinge o miradouro, encontra-se sozinho. Cai de joelhos, ofegante. Cabeça quase no chão, o seu cabelo, apesar de curto, completamente revirado… Todo ele do avesso. Por fora e por dentro.
Cena 4
EXTERIOR, MIRADOURO DO CASTELO, NOITE
Fica noite. Berros. Confusão. Ao erguer a cabeça vê-se a si e a Mariana, naquele mesmo miradouro. Ela, visivelmente transtornada pergunta-lhe “Porquê?”. “Porquê é que não vais com a tua estrangeira para a terra dela?!”, grita e chora. Ele não responde, não a olha, finge olhar o horizonte. Então, em jeito de desespero, a jovem, de cabelos negros compridos, avança para ele de braços no ar, “Usas-te-a como usas-te a mim, não foi?”. Ele vira-se e dá-lhe um estalo e ela cai no chão, de joelhos. Cabeça no chão.
Cena 5
EXTERIOR, MIRADOURO DO CASTELO, FIM DE TARDE
Raul volta a erguer a cabeça. Novamente sozinho e em silêncio, só com o vento de companhia, volta a o olhar a paisagem. Ao fundo, no rio, vê um barco afastar-se e começa a ouvir o fado.
Cena 6
INTERIOR, CASA DE FADOS
Casa cheia. Dois guitarristas e uma jovem de cabelos negros. Mariana canta com a alma, e prende. Prende a todos e em todos se vê um brilho nos olhos. Maior nos de Raul que, na mesa da frente, não desvia por um segundo os olhos da sua amada. Está acompanhado, mas os outros homens, já um pouco bebidos, não o distraem por um segundo sequer. A jovem termina o fado e a sala enche-se de palmas. Mariana agradece, ergue a cabeça, vê – lo sorrir e sorri também.
EXTERIOR, MIRADOURO DO CASTELO, FIM DE TARDE
O barco desaparece.

"O João Pedro é meu primo" de Inês Branco

"O João Pedro é meu primo. É um tipo calmo, quase nos "trintas", vive numa casa com quintal e tem por companheiro um rottweiller. O lugar do cão é lá fora, mas às vezes, ele escapa-se e dá as suas voltinhas na rua. Os vizinhos é que não acham grande piada…


Mesmo assim, o João costuma passeá-lo. Tem aquele ritual de chegar a casa e ir logo com o cão à rua.


Nos seus passeios, o meu primo costumava encontrar, quase sempre, uma das vizinhas do bairro. Era uma senhora de cerca de sessenta anos que, tal como ele, passeava o seu companheiro. Neste caso, um caniche.


Os dois animais não morriam de amores um pelo outro, mas nada que não se resolvesse. Havia sempre aquela "troca de mimos", o que não impedia o meu primo de manter uma conversa civilizada com a D. Amélia.


Há para aí dois meses, o meu primo chegou a casa e a habitual festa de recepção não aconteceu. Estranho, pensou o meu primo, e dirigiu-se para o quintal. O Fred (é este o nome do cão) estava muito entretido com algo na boca. Incrédulo, o meu primo chegou mais perto e o seu pior pesadelo tinha acontecido. Qual boneco, o caniche da vizinha servia agora de brinquedo ao rottweiller.


Segundo o João Pedro, um frio percorreu-lhe a "espinha" e umas gotas de suor começaram a brotar nas suas recém-aparecidas entradas. Mas o meu primo, para além de calma, tem sangue frio e um forte sentido prático.


Cuidadosamente, pegou no pobre animal morto e levou-o para a banheira. Normalmente o banho do seu cão é feito no quintal, mas aquele caso exigia alguma privacidade…


Depois de limpo, o caniche, novinho em folha, foi colocado dentro de um saco funerário, ou melhor, num daqueles sacos pretos do lixo. E foi assim, que o meu primo voltou a sair. Era quase meia-noite. Em passo acelerado e zelando para que não fosse visto, especialmente pelos olhos da D.Amélia, dirigiu-se para o quintal desta. Abriu o saco e "despejou" o caniche no canteiro mais próximo.


Durante as semanas seguintes, o rottweiller ficou bem preso e o meu primo fez todos os possíveis para não se cruzar com a sua vizinha.


Até que um dia, o inevitável aconteceu e lá estava a D. Amélia, sozinha. A conversa foi, mais ou menos, assim:


J: Olá D. Amélia!
D.A.: Olá Sr. João!
J: En…Então o seu cãozinho?
D.A.: Ai sabe lá o senhor… Até já fui à bruxa!!!

J: A sério? Então o que se passa?


D.A: Olhe, o meu "menino" já estava muito doentinho e, há mais ou menos dois meses, morreu, o coitadinho… Eu enterrei-o ali à entrada do olival, com uma pequena cerimónia e tudo.


(A cor do meu primo ia mudando, à medida que a conversa fluía….).


Então não é que no dia seguinte ele voltou para casa!!! Fui dar com ele perto da porta do quintal, no meio das alfaces. Eu tenho a certeza que o enterrei MORTO. Ai se é lá isto possível.


O meu primo despediu-se conforme pôde. Lívido, voltou para casa. Já no quintal, tirou a trela ao Fred, pôs uma mão em cada "bochecha" do animal e olhou-o nos olhos, procurando ler-lhe os pensamentos. E lá estava ele nos seus passeios solitários. Com faro de cão (claro), deu com o sítio da "sepultura" do caniche. Intrigado, desenterrou-o, pegou no "amigo" e trouxe-o consigo para casa…".

"A PONTE DO PARAISO" de Claudia Maris

Ela é jovem. Naturalmente jovem e bonita. Apaixonada pela vida. Não prevê risco ou consequência. Arranja um namorado igualmente jovem mas desinteressado pela vida. Visitam muitas vezes uma pequena cidade fronteiriça cuja beleza natural e arquitectónica a deliciam. Fica sozinha a passear pela praça, pelo castelo e em esplanadas de bares onde a animação cultural transpira noites quentes de Verão. Enquanto ele, desaparece por alguns minutos.

Um dia pede-lhe que o acompanhe. Ela vai. Atravessam a "ponte do paraíso". De regresso ele pede-lhe que lhe guarde uma coisa. Sem saber, ela torna-se o seu passaporte de entrada e o seu visto de saída de um mundo que não domina.

Abordados pelas autoridades da pequena cidade, ela pensa em tudo o que tinha ainda para viver e aprender.