Thursday, May 3, 2007

"O João Pedro é meu primo" de Inês Branco

"O João Pedro é meu primo. É um tipo calmo, quase nos "trintas", vive numa casa com quintal e tem por companheiro um rottweiller. O lugar do cão é lá fora, mas às vezes, ele escapa-se e dá as suas voltinhas na rua. Os vizinhos é que não acham grande piada…


Mesmo assim, o João costuma passeá-lo. Tem aquele ritual de chegar a casa e ir logo com o cão à rua.


Nos seus passeios, o meu primo costumava encontrar, quase sempre, uma das vizinhas do bairro. Era uma senhora de cerca de sessenta anos que, tal como ele, passeava o seu companheiro. Neste caso, um caniche.


Os dois animais não morriam de amores um pelo outro, mas nada que não se resolvesse. Havia sempre aquela "troca de mimos", o que não impedia o meu primo de manter uma conversa civilizada com a D. Amélia.


Há para aí dois meses, o meu primo chegou a casa e a habitual festa de recepção não aconteceu. Estranho, pensou o meu primo, e dirigiu-se para o quintal. O Fred (é este o nome do cão) estava muito entretido com algo na boca. Incrédulo, o meu primo chegou mais perto e o seu pior pesadelo tinha acontecido. Qual boneco, o caniche da vizinha servia agora de brinquedo ao rottweiller.


Segundo o João Pedro, um frio percorreu-lhe a "espinha" e umas gotas de suor começaram a brotar nas suas recém-aparecidas entradas. Mas o meu primo, para além de calma, tem sangue frio e um forte sentido prático.


Cuidadosamente, pegou no pobre animal morto e levou-o para a banheira. Normalmente o banho do seu cão é feito no quintal, mas aquele caso exigia alguma privacidade…


Depois de limpo, o caniche, novinho em folha, foi colocado dentro de um saco funerário, ou melhor, num daqueles sacos pretos do lixo. E foi assim, que o meu primo voltou a sair. Era quase meia-noite. Em passo acelerado e zelando para que não fosse visto, especialmente pelos olhos da D.Amélia, dirigiu-se para o quintal desta. Abriu o saco e "despejou" o caniche no canteiro mais próximo.


Durante as semanas seguintes, o rottweiller ficou bem preso e o meu primo fez todos os possíveis para não se cruzar com a sua vizinha.


Até que um dia, o inevitável aconteceu e lá estava a D. Amélia, sozinha. A conversa foi, mais ou menos, assim:


J: Olá D. Amélia!
D.A.: Olá Sr. João!
J: En…Então o seu cãozinho?
D.A.: Ai sabe lá o senhor… Até já fui à bruxa!!!

J: A sério? Então o que se passa?


D.A: Olhe, o meu "menino" já estava muito doentinho e, há mais ou menos dois meses, morreu, o coitadinho… Eu enterrei-o ali à entrada do olival, com uma pequena cerimónia e tudo.


(A cor do meu primo ia mudando, à medida que a conversa fluía….).


Então não é que no dia seguinte ele voltou para casa!!! Fui dar com ele perto da porta do quintal, no meio das alfaces. Eu tenho a certeza que o enterrei MORTO. Ai se é lá isto possível.


O meu primo despediu-se conforme pôde. Lívido, voltou para casa. Já no quintal, tirou a trela ao Fred, pôs uma mão em cada "bochecha" do animal e olhou-o nos olhos, procurando ler-lhe os pensamentos. E lá estava ele nos seus passeios solitários. Com faro de cão (claro), deu com o sítio da "sepultura" do caniche. Intrigado, desenterrou-o, pegou no "amigo" e trouxe-o consigo para casa…".

1 comment:

maria elisa said...

Começa muito bem mas perde o interesse no final.